Você sabe o que é Xenotransplante? Entenda como suínos podem salvar a vida de seres humanos
- ZooLog
- 2 de jan. de 2018
- 4 min de leitura

Xenotransplante – é a denominação dada ao transplante de células, tecidos e órgãos entre diferentes espécies como alternativa no tratamento de doenças graves que levam à falência total ou parcial de órgãos vitais.
Em um futuro próximo, o xenotransplante pode ser uma alternativa para redução das filas de espera por transplantes de órgãos sendo que, no Brasil, atualmente 32 mil pessoas se encontram à espera de um doador.
Segundo a pesquisadora Denise Luz, o maior obstáculo para os xenotransplantes diz respeito à rejeição do órgão transplantado pelo organismo receptor, entretanto, a utilização de animais de uma mesma ordem zoológica não gera rejeição aguda (destruição do órgão transplantado) e essa foi à razão pela qual os cientistas preferiram usar primatas nas experiências até hoje relatadas.
O primeiro transplante animal-humano aconteceu no ano de 1906, quando o investigador francês Mathieu Jaboulay implantou um rim de porco em uma mulher, e um fígado de cabra em outra. Nenhuma das duas sobreviveu.
Tem-se como o caso de maior sucesso datado no início dos anos 60, quando um paciente sobreviveu por 9 meses após receber um rim de chimpanzé.
Nos anos de 1980, foi transplantado em uma menina (Baby Fae) um coração de babuíno, a criança viveu 21 dias após o transplante. Baby Fae nasceu três semanas prematura com síndrome do coração esquerdo hipoplásico, que é um defeito fatal onde o lado esquerdo do coração não se desenvolve por completo. Neste caso, o insucesso já era previsto, o que resultou em uma série de discussões éticas, em que se avaliou a necessidade de sacrificar um babuíno, já que isto, não salvaria a vida da criança.

O cirurgião Leonard Bailey e a imunologista Sandra Nehlsen-Canadarella com o bebê Fae. Fonte: https://news.llu.edu/clinical/stephanie-s-heart-story-of-baby-fae
Os principais embates com relação ao uso de primatas se baseiam em caráter ético, por as pessoas apresentarem empatia por esses animais, repudiando o sacrifício de tais, mesmo que, para beneficiamento humano, além disso, a procriação de macacos é demorada, resultando em poucos descendentes, sendo difícil mantê-los em cativeiro.
Os cientistas preocupam-se, também, com a saúde pública, uma vez que, o uso de primatas traz consigo maiores riscos de transmissão de doenças infecciosas para o receptor (como o Vírus HIV, comum em ambas as espécies).
Por outro lado, os suínos são criados em prol das necessidades alimentares humanas, sua criação para abate desperta menos resistência por parte da sociedade e de entidades defensoras dos animais. Essa espécie possui também crias múltiplas, é de crescimento e reprodução rápidos.
Os órgãos dos porcos são comparáveis em tamanho e fisiologicamente, embora em menor grau, aos dos seres humanos, e de acordo com a compatibilidade do órgão, é possível transplante até em bebês muito pequenos.

Coração de um suíno. Fonte: Google.
A resposta imunológica do organismo humano em relação a órgãos de porcos é rápida e intensa, o que gera rejeição aguda. Tal rejeição é tão severa, que não pode ser evitada com o uso de drogas, por isso, os pesquisadores tem manipulado o DNA de porcos, criando os então, porcos transgênicos.
Com a utilização da técnica de fertilização in vitro (A) e (B), os cientistas manipulam o DNA do ovo fecundado (C) antes que ele se transforme em embrião retirando a parte da cadeia genética responsável pela produção de enzimas e proteínas que causam rejeição em humanos (D).

Processo de manipulação do DNA suíno retirando a cadeia genética que causa a rejeição de órgãos. Fonte: G1.
Em 1992, duas mulheres receberam fígado de porcos, até que se pudesse dispor de órgãos humanos apropriados. Ambas sobreviveram, mas quando receberam os órgãos humanos vieram a óbito. Evidências mostraram bom funcionamento do fígado de porco nas duas pacientes.
A utilização de válvulas coronárias de porcos em seres humanos já é uma realidade, isto porque, elas são introduzidas no organismo humano envolvidas em uma cápsula protetora que as mantêm isoladas do contato com o organismo receptor, reduzindo a extensão da resposta imunológica.
De qualquer forma, mesmo que exista compatibilidade entre doador e receptor, será necessário, em qualquer caso, o uso de drogas para subsidiar a resposta imunológica do organismo receptor, o que tende a reduzir a capacidade de defesa do sistema imunológico e torná-lo mais suscetível a patógenos.
Outra preocupação diz respeito à possibilidade de mutação genética dos agentes infecciosos, mediante combinação do material genético dos vírus presentes nos suínos com os vírus contidos no corpo humano, gerando novos vírus ou retrovírus.
Portanto, xenotransplante em seres humanos trará benefícios à sociedade mediante muitos estudos e pesquisas, garantindo riscos mínimos ao surgimento de novas doenças que resultem em pandemias por não haver medidas profiláticas. Essa técnica pode se tornar a solução para a escassez de órgãos existentes em vários países e, com isso, evitar a morte de milhares de pacientes presentes nas filas de espera por um transplante.
Referências:
Brasil tem atualmente 32 mil pessoas à espera de um transplante de órgãos. G1- Jornal Hoje. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2017/09/brasil-tem-atualmente-32-mil-pessoas-espera-de-um-transplante-de-orgaos.html>. Acesso em: 29 dez. 2017.
COELHO, Mário Marcelo. Xenotransplante: Ética e Teologia. São Paulo: Loyola, 2004.
LUZ, Denise. Xenotransplantes e dignidade animal no direito penal médico. Disponível em: <http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/anais/cienciascriminais/III/30.pdf>. Acesso em: 29 dez. 2017.
Porcos serão doadores de órgãos para humanos, diz pesquisa dos EUA. G1 – Jornal Nacional, 2017. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2017/05/porcos-serao-doadores-de-orgaos-para-humanos-diz-pesquisa-dos-eua.html>. Acesso em: 30 dez. 2017.
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